MARCELO RUSSELL

A franqueza tem limite na indelicadeza. Passada a fronteira, está a rudeza.

Textos


 
SOEM OS SINOS! TODOS ELES!

Impressiona o som do pequenino sino. Claro, suave, agradável ao ouvido, sobressaído do meio dos instrumentos, enquanto em curso a execução sinfônica. Mesmo lançado de objeto tão pequeno, dentre os menores da orquestra, o toque do sino pode ser ouvido em todos os lugares do teatro. De sonoridade peculiar, com força vital, a sucessão rítmica de sons do sininho passa por cima de todos dos outros instrumentos musicais e toca nossos corações.

Na invocação do Espírito Santo, também cumprindo bem sua tarefa, a sineta usada na Oração Eucarística espalha seu som e, da mesma forma, toca suavemente em nossa fé. Lá do campanário o sino igualmente exerce seu empenho se fazendo ouvir até os confins, subindo e descendo montes, percorrendo vales, descendo às profundezas dos rios e mares, para chegar aos ouvidos dos fiéis. A melodia que abranda e arrefece discórdias e renova as esperanças de melhores dias. É o som dos sinos que se espera ouvir neste tempo arruinador.

Os sinos sempre deterão o poder maior de se sobrepor a qualquer outra respeitável escolha. E estarão continuamente acima de protestos, turbas, tribulações, vozeirões nos parlamentos ou qualquer ação, mesmo justificada, que açule agressividade, mais do que pacifique. É cogente enfraquecer o fogo, apagar as labaredas, esfriar a violência que divide e destrói famílias e amizades. Não retumbem tambores. Não estamos em marcha para a guerra. Nossa jornada visa a construção da paz e união, em busca do Ágape de Deus.

É, pois, do alto das torres sineiras que deve vir a linguagem acústica, aquela que desejamos ouvir agora, com estilos e atitudes composicionais variados, produzido pelas toneladas de bronze sacudindo-se de um lado ao outro badalando a melodia em alusão à paz. Quem o escutar terá novas perspectivas abrangentes da capacidade de agir em prol da felicidade.

Queremos nos levantar contra duelos incapazes de dar bons frutos. Combateremos apenas o bom combate. Devemos sim, prestar homenagem aos caídos pela Pandemia, e não usá-los como bandeira de batalha. Suas mortalhas, já quase meio milhão delas no Brasil, têm a cor da nossa insensibilidade à dor alheia. Alerte-se para os que ressentem a falta de partilha e para a vida sem dignidade. Tenha cuidado com a ganância e as posses exageradas.

Badalem os sinos! Todos eles! Que o ressoar inspire em nós a luz da misericórdia. Que nós caminhemos firmes, porém com mais amor. Com o coração rápido para o perdão, desprezando o mal que nos ofende.

Os curtos momentos musicais, produzidos ao mesmo tempo, vindos de cada campanário, de cada Igreja, serão pequenos fragmentos abrilhantando a mensagem descida dos altos céus e exortarão com entusiasmo as comunidades à reflexão, à meditação e à exaltação, usando o ressoar como veículo eficaz de oração pela tranquilidade social, pela prática da justiça, pela verdadeira fraternidade e pela fonte eterna de vida. E por fim repercutirá em necessário tributo aos vencidos pelo mal que ora nos aflige.
 
MARCELO RUSSELL
Enviado por MARCELO RUSSELL em 08/06/2021
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