LIXO HUMANO
Os lixos modernos são muitos. Variados, alterados e antagonizados. Alguns, encolerizados, já ouvimos falar, dentro e fora do lar. Atômico, eletrônico, gastronômico, detrito espacial e entulho especial. Esse resultante de atividade industrial como planta de detergentes. Lamacentos, relutantes poluentes, insistentes e adstringentes. Tecnologias emergentes. Vidas decadentes e extermínio latente. Bons lixos os do urinol. Restos de antigamente, dejetos de gente. Lavagem de lençol, limpar gaiola de rouxinol e peixe fisgado de anzol. Lixo de era limpa, um luxo sem rima e sem sina, água sem sujeira. Beber da cacimba, do rio e da cachoeira. Água da cantoneira. Vinda da chuva corria a molhar eira, beira e tribeira. Escuridão radioativa. Trevas nucleares. Sombras noviças e nocivas. Fukushima, terra do sol nascente doente, inconseqüentes ogivas Água sem auto-estima, indecisa, do subsolo até em cima. Na casa de farinha, na roça e na casa da madrinha, não tinha. Era assim naquela era. Hoje, só quimera. O que dava alegria acabou. Agora água sem imundície é alegoria. É bebida com economia e sem garantia. Nessa trilha de crimes sem piedade contra a humanidade. Foi-nos revelado, para nossa ciência, encapsulado desengano. O tal do lixo humano. Todos nós já conhecemos. Ou ouvimos falar. São modernos, habituamos com eles lidar. Prá quem ainda não conhece, ou esquece, Vamos ao que nos apetece. Fazer comentários sobre essa peste é aviso feito prece. Atinge qualquer um. Eu e tu, tementes ao exército de Belzebu. Reza de anjo alado que pratica o manual divino. Indo e vindo. Onde Mateus adverte: cuidado com os falsos profetas. Eles orbitam entre nós vestidos de ovelha. Com sorriso até a orelha. Mas por dentro são lobos ferozes. Pelos seus frutos os conhecereis. Vendaval bestial. O mar revoltoso sorve a jangada de sete paus. Toda árvore má produz frutos maus. Ainda, alerte-se: nada tem a ver com orgânico hospitalar. Lixo humano é arriscado de decifrar. Tem que ralar. Desemaranhar. Definido por várias frentes, num refrão descontente. Lixo na terra recente. O Homem foi posto no universo de repente. Não sei quanta gente, todo o continente, não há quem agüente. Tem inglês, tem japonês, chinês e escocês. Poubelle humaine é o lixo da vez em francês. Desapontamento é ponto básico e marcante para sua definição. Pode ser também a desilusão. O chorume é a ingratidão. Miserável atingido é diamante sem brilho, pelas garras de ferro ferido. Corte no umbigo, esfrega ungüento quente no peito dolorido. Porém, ao bom observador não passará despercebido. O desprezo redunda em desilusão. Infecção dessa condição. Enfoca-se próprio, como configuração do vestígio humano, Decepar a mão... A decepção! Com pá imunda, sepulta-se na cova o cálice de cor e de dor profunda. Pó que descansa em tumba funda e soma o ódio que abunda. Faz zangar-se o asqueroso corcunda, na gaveta da catacumba. Cheiro dos fedorentos sentimentos, sedentos por isolamento. Na lembrança a quebra da confiança. O fim da esperança. Ataque hostil à fidúcia depositada em alguém. Um desdém. Agonia que não merece ninguém. Zé-ninguém se vendeu por um vintém. Vinte e oito reis da Judéia na catedral pedem amém. Quais moedas ele tem? Dez desleais e um réquiem. Nove vezes nove disformes. Mil discos de cobre. Metamorfose. Duas vezes dez perfídias. Vinte Judas e cem mil feridas sentidas. De tal modo é o lixo humano. Humanidade, sinônimo de animosidade e adversidade. Uma mentira. Basta isso. Pulveriza anos de amizade. Traduz a lealdade como coisa inútil. Velha, sem valor, fútil. Um detrito. Um resto de grito indefinido no infinito. Pior, ainda! O restolho qualquer do jogo do mal-me-quer Andar na estrada de ferro, sob a luz do sol, criando calos no pé. Piscina no pântano, no meio do lameirão. Trampolim ao vento, sem poema e sem composição. Saem pela janela, milhares de dias de afeição. Conspiração. Milhagem voada tal qual pássaros em formação. Nada ocorre por insapiência. Na maldade tudo é ciência. Não sei de onde vem tanta incongruência. Incoerência. É como se fosse certo fazer sujeira. Normal e racional. Pois, tudo vem do homem anormal e irracional. O homem animal! Temos balizas sociológicas, mas seremos sempre gente. Povo freqüente, mal-educado, acorrentado e indigente. Coisa ruim ecoa. Corre pelo mundo à toa. Numa boa. Assim, outro dia virá e outra noite findará. Outro dia terminará com menos felicidade. Outra noite acabará sem nenhuma fraternidade. É chegado o fim do mundo. Moribundo imundo. Independe de nós. Moto-contínuo atroz. Menos um fã, menos um ídolo e menos um herói. É ou não é triste, essa podridão que nos corrói? Assim você se julgará, depois de passar por uma decepção. Um cadáver em decomposição. Integral putrefação. Apodrecimento até nos profundos sonos, no fim de todos os anos, Na suma eternidade de uma só uma realidade. Desconsolável do céu ao inferno mundano... Uma imundice... A escória do ser humano! MARCELO RUSSELL
Enviado por MARCELO RUSSELL em 30/06/2011
Alterado em 25/06/2013 Copyright © 2011. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |